Um projeto de lei altamente controverso sobre a obtenção da cidadania italiana está gerando debates acalorados. O senador Roberto Menia, membro do partido político Irmãos de Itália, o mesmo da atual primeira-ministra Giorgia Meloni, levanta preocupações de que o processo esteja se tornando uma questão de conveniência econômica, em vez de um verdadeiro vínculo emocional com as raízes italianas.
O projeto de lei propõe mudanças significativas na legislação atual (leia aqui), incluindo a exigência de proficiência na língua italiana e restrições mais rigorosas para solicitar a cidadania.
Enquanto alguns defendem essas medidas como necessárias para evitar abusos, outros argumentam que elas representam obstáculos injustos para aqueles que têm uma forte conexão com a Itália, apesar das gerações passadas no Brasil.
O projeto de lei proposto pelo senador Menia não representa uma revolução completa na legislação atual de aquisição da cidadania italiana, estabelecida pela Lei 91/1992. Ao contrário, parece ser um ajuste questionável e possivelmente motivado por interesses pessoais ou políticos.
Roberto Menia, um político experiente, alimenta uma narrativa tendenciosa com suas alegações sobre a formação de um “império econômico” envolvendo advogados e agências. Mas a presença desses serviços surge, em parte, da omissão do Estado italiano em fornecer um processo mais eficiente e acessível.
Às vezes, as coisas simples são as mais difíceis de ver e fazer. É questionável se o senador Menia, em seu pomposo gabinete em Roma, consegue enxergar a situação do outro lado do oceano e compreender plenamente as complexidades e motivações envolvidas.
É incontestável que a obtenção da cidadania italiana pode representar um elo significativo com a história e a cultura do país. Muitas pessoas que adquirem a cidadania italiana sentem-se orgulhosas e reconectam-se com suas raízes históricas.
No entanto, é preciso encontrar um equilíbrio adequado entre facilitar o processo de obtenção da cidadania e evitar possíveis abusos.
Uma solução viável poderia ser o fortalecimento dos serviços consulares no Brasil, com o aumento do número de funcionários e a melhoria da eficiência do processo. Dessa forma, seria possível reduzir os prazos de espera e garantir um processo mais justo e transparente para todos que desejam adquirir a cidadania italiana. Recursos financeiros para essa finalidade não faltam.
O Brasil abriga a maior comunidade de descendentes de italianos do mundo, com cerca de 30 milhões de pessoas. Essa comunidade é composta por uma ampla rede institucional, que inclui mais de 100 escritórios consulares em todo o país, mais de 400 associações italianas, centenas de festas italianas tradicionais, quase 800 fábricas e filiais de empresas italianas, além de quase três centenas de professores de italiano.
Nenhum outro país possui uma presença tão importante e diversificada assim no Exterior.
São 30 milhões de pessoas com orgulho em consumir o Made in Italy.
O debate sobre as políticas relacionadas à cidadania italiana deveria ser conduzido de maneira transparente e imparcial, visando proteger os direitos de todos os envolvidos e evitar que interesses pessoais ou políticos distorçam o processo.
Por Reginaldo Maia
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