Luigi Caloi chegou ao Brasil em 1898 e fundou uma oficina e importadora de bicicletas da Itália. Era a semente de uma das principais marcas do país.
O italiano Luigi era mais um que veio tentar uma nova vida no Brasil, assim como fizeram milhares de imigrantes entre final do século 19 e início do século 20. Nascido em 1868 em Erbè, cidade da região do Vêneto, na província de Verona, ele trouxe o cunhado Agenore Poletti, um mecânico muito hábil.
Seu sonho já era fazer a melhor bicicleta, utilizando a tecnologia mais avançada possível. No começo, os dois abriram a Casa Poletti & Caloi, que alugava, consertava e reformava bicicletas de corrida do tradicional Clube Atlético Paulistano, em São Paulo.
Em 1922, Luigi se tornou representante exclusivo da fábrica italiana de bicicletas Bianchi no país. Apenas dois anos depois, em 1924, Luigi morreu, deixando sua esposa Alpinice e os três filhos, Guido, Henrique e José Pedro. Eles decidiram levar adiante a empresa, que passou a se chamar Irmãos Caloi.
Caloi inaugura primeira fábrica
No entanto, a sociedade Irmãos Caloi também acabou durando pouco e a empresa passou a ser apenas de Guido Caloi, filho de Luigi também nascido em Erbè, na Itália. A empresa foi denominada dali em diante de Casa Luiz Caloi, em homenagem ao pai.
Em 1945, a Segunda Guerra Mundial trouxe enormes dificuldades de importação de produtos da Europa, o que obrigou Guido a passar a produzir peças de reposição em um barracão no bairro do Brooklin, em São Paulo.
A iniciativa se mostrou acertada e, mesmo após terminada a guerra e regularizada a importação de peças, em 1948, Guido seguiu confiante na nova fase da empresa e manteve a fabricação própria.
A empresa passou a se chamar Indústria e Comércio de Bicicletas Caloi S.A. e entrou para a história como a primeira fábrica de bicicletas do Brasil.
O primeiro lançamento da marca veio em 1953, com o modelo Fiorentina, uma bicicleta equipada com aro 26 (novidade na época), freio a varão, bagageiro e bolsa para ferramentas em couro sob o selim.
Em 1955, Guido Caloi morreu, dando lugar à terceira geração da família na direção da empresa, que passou a ser comandada pelo seu filho, Bruno Antônio Caloi.
Lançamentos consolidam marca no país
No final da década de 60, a empresa lançou o modelo Berlineta, uma bicicleta dobrável, que se tornou objeto de desejo de crianças e adolescentes da época.
A consolidação da marca veio na década de 70, quando a empresa lançou a Caloi 10, modelo com quadro inspirado na bicicleta Bianchi San Remo, com 10 marchas. Primeira bicicleta esportiva lançada no Brasil, ela virou febre entre os jovens.
Outro grande lançamento foi a Barraforte, que se tornou sinônimo de resistência. Uma bicicleta robusta, com quadro em aço carbono, desenvolvida para levar o ciclista com segurança e conforto, que se tornou referência histórica no segmento de transporte no país.
Em 1975, em franca expansão, a empresa inaugurou mais uma fábrica. Localizada em Manaus, a nova unidade visava produzir bicicletas de alto valor agregado.
O primeiro lançamento nesse sentido foi a Caloi Ceci, no final daquela década. Era a primeira bicicleta feminina do mercado brasileiro. A cestinha na dianteira era marca registrada deste modelo. O comercial de televisão trazia a atriz Bruna Lombardi como garota propaganda.
Sucesso atrás de sucesso
Outra inovação da década de 70 foi a Mobilette, um ciclomotor de 49.9 cilindradas, que se tornou grande sucesso de vendas. Um único tanque de gasolina de três litros era suficiente para muitos quilômetros. Com produção encerrada no final da década de 80, ela se tornou um item de nostalgia importante no mercado de colecionadores.
No início da década de 80, o lançamento da Caloi Cross Extralight marcou a chegada da BMX ao Brasil. As rodas eram aro 20 com pneus biscoito. As partes de alumínio eram coloridas, fato inédito na época. Ela marcou uma geração de meninos brasileiros, que sonhavam com essa bicicleta.
A década de 90 trouxe os modelos mountain bike. Primeiro vieram as bikes de aço carbono e 15 marchas e depois a Caloi Aluminum, modelo de ponta e de alta tecnologia para o mercado brasileiro da época: quadro de alumínio produzido pela Alcoa, com garfos também de alumínio fornecido pela francesa Vitus e o inédito câmbio de 21 velocidades.
Inovações no design e na funcionalidade das bikes continuaram a conquistar cada vez mais clientes, inclusive nos Estados Unidos, onde a Caloi inaugurou uma subsidiária em 1990, em Jacksonville, na Flórida. Além disso, a marca patrocinou o heptacampeão do Tour de France, o americano Lance Amstrong, na equipe Motorola/Caloi.
Abertura do mercado traz mudanças
Até 1992, quando o mercado brasileiro reduziu consideravelmente as suas barreiras contra as importações, a Caloi tinha como concorrente apenas a Monark. Depois da abertura, a marca passou a enfrentar problemas financeiros.
A empresa foi dirigida pela família Caloi até o ano de 1999, quando a maior parte das ações foi vendida para Edson Vaz Musa, respeitado administrador de empresas e ex-presidente da Rhodia no Brasil.
Desde então, a Caloi passou a trabalhar para a marca ser sinônimo de bicicletas e fitness, agregando saúde, esporte e lazer ao seu nome. Em 2006, foi inaugurada uma moderna fábrica em Atibaia e, em 2008, a Caloi comemorou 110 anos com a comercialização de 700 mil bicicletas e 100 mil aparelhos de homefitness.
O slogan da Caloi, que em 1978 era “Não esqueça a minha Caloi”, principalmente em comerciais de televisão, que estimulavam as crianças a escreverem bilhetinhos para os pais, passou a ser “Caloi. Movimentando a Vida.”, para vender também bicicletas e esteiras ergométricas.
Em agosto de 2013, 70% das ações da Caloi foram vendidas para a canadense Dorel, que é proprietária de marcas como Cannondale, Schwinn e GT. Eduardo Musa é o CEO da empresa no Brasil.
Caloi segue viva na indústria e no sonho
A empresa tem modernizado sua linha de produtos para acompanhar tendências internacionais e continuar liderando o mercado com produtos do mais alto nível. A estratégia inclui bicicletas elétricas e produzidas em fibra de carbono, que chegam a custar R$ 20 mil. E segue apoiando atletas das mais diversas modalidades.
A Caloi está na memória de gerações e gerações de brasileiros, sejam ciclistas profissionais ou crianças que um dia ganharam de presente sua primeira bicicleta. O cheiro da borracha novinha dos pneus. A emoção da primeira volta no quarteirão. Os gritos de alegria quando o pai tirou as mãos do guidão e a pedalada passou a ser independente.
São emoções que se tornaram possíveis pela coragem de um italiano, Luigi Caloi, que viu seu sonho se materializar e virar também o sonho de milhares de brasileiros por muitas décadas, no país que o recebeu de braços abertos.
Por Roberto Schiavon/Italianismo