O prefeito de Val di Zoldo, Camillo De Pellegrin, voltou a fazer duras críticas aos descendentes de italianos residentes fora da União Europeia. Ele se posicionou contra a proposta que autoriza cidadãos italianos residentes no exterior a acessar o sistema público de saúde da Itália mediante o pagamento de uma taxa anual.
Segundo ele, a medida pode causar o colapso no, já frágil, sistema de saúde do país.
“Aderir à proposta não será atrativo para pessoas saudáveis. Quem vai querer pagar são justamente aqueles com patologias sérias, que não conseguem tratamento adequado em seus países”, disse o prefeito em entrevista ao jornalista Claudio Fontanive, do jornal Il Gazzettino, neste domingo (14).
“Não serão turistas, mas doentes”
Conforme o texto aprovado pela Câmara dos Deputados, italianos registrados no AIRE (registro de italianos no exterior) poderão acessar o Serviço Sanitário Nacional pagando uma taxa de 2.000 euros por ano.
“Pareceria um bom serviço para os nossos compatriotas e uma boa arrecadação para os cofres regionais. Mas quem estará disposto, do outro lado do oceano, a pagar 2.000 euros anuais pela assistência sanitária?”, questionou De Pellegrin.
Ele argumentou que “provavelmente não serão pessoas saudáveis que vêm à Itália para uma estadia normal (bastaria fazer um seguro viagem). Serão, ao contrário, incentivadas a se inscrever pessoas com patologias que necessitam de tratamentos importantes, caros, de ponta, que talvez seu país não ofereça ou que não conseguiriam pagar”.

Alerta sobre o turismo de saúde
“É ruim ter que falar de vil dinheiro quando está em jogo a saúde das pessoas. É verdade. Mas será sustentável para o nosso sistema de saúde aquilo que provavelmente poderá se tornar um turismo de saúde? A arrecadação estimada será suficiente para cobrir as despesas de quem precisará enfrentar intervenções complicadas e longas internações? Facilmente não”, disparou o prefeito.
A província de Belluno, segundo a reportagem, tem mais de 63 mil cidadãos registrados no AIRE, sendo 77% fora da União Europeia.
Risco de sair do controle
O prefeito criticou ainda a atual legislação de cidadania por descendência.
“Se somarmos as enormes distorções da lei anterior de cidadania, que permitiram e permitirão centenas de milhares de reconhecimentos de cidadania italiana em favor de perfeitos estrangeiros, que jamais pisaram na Itália, o curto-circuito está feito”, declarou De Pellegrin.
A proposta tem como autor um deputado eleito pela circunscrição do exterior. De Pellegrin fez uma ressalva: “Máximo respeito ao honorável Andrea Di Giuseppe, que sempre lutou para fazer emergir as falhas do sistema de cidadania, protegendo ao mesmo tempo os ‘verdadeiros’ compatriotas, mas neste caso ou não compreendemos o sentido da reforma ou algo corre novamente o risco de sair do controle”.
Prefeito teme derrota na Corte: “Seria o fim”
Ele ainda citou a lei Tajani, que em julho deste ano restringiu o reconhecimento da cidadania italiana por descendência até o segundo grau, e comentou a possível revisão da nova lei pela Corte Constitucional.
“Se acrescentarmos a circunstância de que a nova lei da cidadania, já em março, poderá ser tornada parcialmente ou totalmente ineficaz com uma intervenção da Corte Constitucional, esperamos que não, porque seria o fim, teremos feito bingo”, disse o prefeito.
“Praticamente vamos presentear intervenções e tratamentos a meio mundo, com o consentimento de quem sustenta o sistema e espera meses por uma consulta. O reconhecimento da cidadania italiana não é apenas, como alguns gostam de dizer, valorização da cultura e das tradições, um ato devido em memória dos antepassados emigrados. É muito mais. É um status que traz consigo uma série de benefícios. E, uma vez concedido (a palavra correta é reconhecido), não se tira mais. É uma avalanche que vai nos arrastar a todos. Além disso, menores não pagam, se ao menos um dos pais aderir”, finalizou De Pellegrin.




























































