Uma proposta apresentada pelo governo italiano na sexta-feira, 28 de março, provocou forte reação internacional. O decreto-lei nº 36 restringe o reconhecimento da cidadania italiana por descendência, limitando o direito apenas a filhos e netos diretos de italianos.
A medida impacta milhões de ítalo-descendentes, especialmente na América do Sul e nos Estados Unidos. Estimativas oficiais indicam que cerca de seis milhões de italianos vivem no exterior, a maioria descendente de imigrantes.
Perfis da primeira-ministra Giorgia Meloni e de seus vice-premiês, Antonio Tajani e Matteo Salvini, nas redes sociais têm sido alvo de críticas de usuários em defesa dos ítalo-descendentes.
O decreto também foi contestado por jornais, associações e personalidades ligadas à comunidade italiana, que o classificam como excludente e prejudicial.
Nos Estados Unidos
O comentarista político Joey Mannarino, ex-apresentador do programa YourVoice America e ítalo-americano, foi um dos primeiros a se manifestar:
“Não faz sentido que o governo italiano tenha escolhido impor restrições rigorosas àqueles que buscam a cidadania por legítima descendência italiana”, publicou em seu perfil no X (antigo Twitter).
Mannarino também questionou a contradição entre limitar o direito dos descendentes e, ao mesmo tempo, manter uma política migratória aberta a imigrantes de outras regiões.
No Brasil
No Brasil, o apresentador e empresário Marcelo de Carvalho, dono da RedeTV!, posicionou-se como ativista da causa ítalo-brasileira. Segundo ele, centenas de pessoas o procuraram pedindo esclarecimentos sobre a nova regra.
“Essa medida gera alguns problemas muito claros. Você está criando duas categorias de italiano: um que mora na Itália e um de segunda classe, que mora fora. Isso é absurdo”, afirmou em vídeo publicado no Instagram.

Carvalho também criticou o impacto econômico da proposta: “A Itália, com problema de decréscimo populacional, está perdendo a chance de atrair uma população altamente qualificada”. Para ele, o governo deveria priorizar a integração, não a exclusão.
Mobilização internacional
Entidades civis e políticos organizam moções de repúdio e petições que serão protocoladas no Parlamento Italiano, com pedidos de revogação do decreto e preservação dos direitos dos descendentes.
O ex-deputado Luis Roberto Lorenzato é um dos políticos que deve apresentar uma moção nesta semana. “É inaceitável que um ato normativo, que deveria ser utilizado apenas em situações de urgência, seja aplicado para deslegitimar a italianidade transmitida de gerações em gerações. Essa decisão não apenas desrespeita os cidadãos italianos no exterior, mas também ignora princípios fundamentais do ordenamento jurídico italiano, que garantem a igualdade de todos os cidadãos e a liberdade de emigração”, antecipou.
Uma petição virtual criada no sábado já ultrapassa 35 mil assinaturas em pouco mais de 24 horas.
A expectativa é que o Parlamento Italiano debata o decreto nas próximas semanas. Enquanto isso, comunidades ítalo-descendentes ao redor do mundo seguem mobilizadas na defesa de seus direitos históricos.