A Itália vive uma das maiores crises já registradas em seu sistema de saúde. O país europeu enfrenta um déficit de mais de 65 mil profissionais, segundo estimativas oficiais, e por isso intensificou a contratação de médicos, enfermeiros e técnicos estrangeiros — entre eles, brasileiros.
As ofertas são atraentes: salários que podem chegar a 7 mil euros mensais (cerca de R$ 44,6 mil), além de benefícios como passagem aérea, moradia subsidiada e cursos de idioma. A carência atinge hospitais, clínicas, casas de repouso e centros comunitários, ampliando as possibilidades de inserção para quem deseja atuar na Europa.
O Decreto Milleproroghe
O impulso às contratações veio com o Decreto Milleproroghe, aprovado recentemente em Roma. A medida flexibiliza a validação de diplomas estrangeiros e permite que médicos e enfermeiros iniciem suas atividades antes mesmo do reconhecimento definitivo dos títulos pelo Ministério da Saúde italiano.
Na prática, profissionais brasileiros podem ser contratados de forma temporária e, paralelamente, iniciar o processo de equivalência plena do diploma — exigência para a consolidação da carreira no país.
O caminho para se candidatar
Apesar das facilidades, o processo ainda envolve burocracia. Entre os principais passos estão:
- Preparar documentos: diploma e histórico traduzidos para o italiano por tradutor juramentado, com Apostila de Haia e Declaração de Valor.
- Idioma: o domínio do italiano é essencial; alguns hospitais oferecem cursos, mas recomenda-se iniciar os estudos antes.
- Busca de vagas: oportunidades são divulgadas em editais regionais e portais de emprego com termos como ospedale (hospital), medico (médico) e infermiere (enfermeiro).
- Visto de trabalho: após uma proposta formal, o candidato deve solicitar o visto no consulado italiano no Brasil.
- Residência: já em território italiano, é preciso pedir o permesso di soggiorno (autorização de residência).
- Registro profissional: médicos devem se inscrever no Ordine dei Medici, e enfermeiros no Ordine degli Infermieri.
Cidadania e futuro profissional
Há ainda uma vantagem para descendentes de italianos: quem atuar por ao menos dois anos poderá solicitar a cidadania. A medida integra a estratégia do governo de enfrentar o chamado “inverno demográfico” — fenômeno marcado pela queda populacional. Em 2024, a Itália registrou 58,93 milhões de habitantes, número em declínio.
Obstáculos burocráticos
Os incentivos não eliminam as dificuldades. Em 2023, dos 130 mil vistos abertos, pouco mais da metade foi efetivamente autorizada. Apenas 13% resultaram em contratos assinados e somente 7,5% em residência regularizada.
O cenário não mudou substancialmente em 2024, e muitos profissionais ainda enfrentam contratos temporários e situações de instabilidade no país.
