A padaria Basilicata, instalada no bairro Bela Vista, em São Paulo, tem 107 anos de história. Tudo começou com Filippo Ponzio, que veio do sul da Itália.
Foi no início da década de 1910 que Ponzio saiu de Tramutola, cidade italiana da região da Basilicata, na província de Potenza. Assim como tantos outros italianos na época, ele veio ao Brasil em busca de oportunidades de trabalho.
Em São Paulo, o imigrante italiano se instalou no bairro do Bexiga, reduto dos oriundi na capital do Estado. Passou a morar em um lote de 830 metros quadrados, no número 614 da Rua Treze de Maio.
Na frente do imóvel, Ponzio montou um empório, onde passou a vender todos os tipos de produtos, desde cereais até vassouras e cremes dentais. O local era ponto de encontro de familiares que chegavam ao Brasil e não tinham onde ficar. Nos fundos, ao lado da casa, ergueu uma cocheira, onde guardava os cavalos de entrega.
Tradição da Basilicata
No centro do terreno, ficava o forno de oito metros de diâmetro, construído aos moldes do antigo forno de sua irmã Giuseppina, bisavó dos atuais sócios e nonagenária quando estes eram jovens.
Em vez de fazer a vida trabalhando na terra, como tantos outros italianos que chegaram ao Brasil na época, Ponzio decidiu apostar em outra habilidade que tinha aprendido ainda em Tramutola: fazer pão.
Na Itália, era comum as famílias produzirem seu próprio pão e os vizinhos compartilharem fermento e fornos. Foi assim que ele aprendeu a receita e começou a desenvolver a habilidade de padeiro.
A primeira formada saiu em abril de 1914 e logo correu no Bexiga a notícia de que o bairro tinha pães com o inconfundível toque italiano: redondos, graúdos (pesando de um a três quilos) e com casca crocante.
Filippo Ponzio passou a vender os pães para os moradores do bairro e logo virou parceiro das cantinas que abriram as portas nas redondezas, como a contemporânea Capuano.
Até hoje a Basilicata abastece dezenas de restaurantes, para os quais vai uma fornada inteira das três que saem diariamente.
Novos italianos, mais determinação
A partir da década de 1920, vieram as transformações, como a chegada dos Lorenti-Laurenti, que deram continuidade aos negócios, primeiro na figura de Domenico Laurenti, sobrinho de Filippo Ponzio, também natural da Basilicata.
Mais tarde, figuras como Salvatore e Rafaella Lorenti vieram da Calábria para se juntar à empresa.
Domenico chegou ao Brasil em 1926 e em 1942 aceitou o convite de Filippo Ponzio, tio bisavô dos atuais sócios, para trabalhar na Basilicata e fazer parte da sociedade, dando início à segunda geração.
Alegre e amável com os clientes, logo ficou conhecido como Seu Domingos da Padaria.
O primo de Domenico, Salvatore Lorenti, era ferreiro na Itália e foi chamado para ajudar a tocar a padaria.
Chegou ao Brasil em 1949 e começou entregando pão e leite de carroça entre os bairros Centro, Bela Vista, Paraíso e Vila Mariana.
Logo aprendeu a fazer o pão italiano e por anos foi responsável pela produção e cuidado com o fermento natural.
Atualmente a Basilicata está sob comando da quarta geração de descendentes do fundador Filippo Ponzio: Toninho Laurenti, Nicola, Vittorio e Angelo Lorenti.
Em 2014, para comemorar os 100 anos de história da Basilicata, a editora Senac lançou o livro “Padaria Basilicata – Cent’Anni di Storia”, de Cheila Vargas, formada em letras pela USP.
Na mesma semana do lançamento do livro, foi realizada uma exposição sobre a casa no Conjunto Nacional.
Família firme no comando
Em 2017 a Padaria Basilicata reabriu as portas no novo espaço intitulado Basilicata – Pão, Empório e Restaurante.
Além de seguir produzindo o centenário pão segundo as regras de respeito ao ciclo do fermento natural, a casa hoje serve diversas receitas preparadas pelo Chef Rafael Lorenti, da quinta geração da família.
O investimento foi de aproximadamente R$ 2,5 milhões, para atender cerca de 12 mil clientes por mês, que têm a opção de fazer seu lanche ou refeição no local ou levar para casa diversas opções de produtos, como queijos, vinhos, molhos, doces e biscoitos, entre outros.
Nada mal para a família de um italiano que começou com uma loja de secos e molhados, passou a vender pão para a comunidade italiana de seu bairro e hoje é um grande representante da força do trabalho dos oriundi no Brasil.
Por Roberto Schiavon/Italianismo