O vice-primeiro-ministro da Itália, Antonio Tajani, gerou polêmica ao declarar, nesta quinta-feira (22), que “ser italiano não está ligado a sete gerações”, justamente no momento em que seu ministério promove intensamente o programa “Turismo de Raízes”, que busca reconectar descendentes de italianos com suas origens.
A contradição levanta questionamentos sobre a coerência das políticas italianas em relação à identidade nacional e à valorização da ancestralidade.
O programa, sob responsabilidade do Ministério das Relações Exteriores da Itália (do qual ele também é ministro), voltado principalmente para os ítalo-descendentes, especialmente no Brasil, onde reside uma das maiores comunidades de descendentes de italianos do mundo, procura fortalecer a conexão com as raízes italianas.
Por meio de ações específicas e visitas às regiões de origem de seus antepassados, o “Turismo de Raízes” destaca a importância das tradições familiares e culturais, proporcionando uma experiência de redescoberta das origens italianas.
Porém, a iniciativa contrasta fortemente com as declarações de Tajani, que parecem minimizar o valor da herança ancestral ao afirmar que a identidade italiana não deve ser definida apenas pela linhagem familiar.
A diferença revela uma inconsistência na forma como o governo italiano se apresenta. Ao mesmo tempo que quer modernizar a identidade nacional com traços cada vez mais multiculturais, reforçando a conexão ancestral por meio de projetos como o “Turismo de Raízes”, o governo continua a desvalorizar seus descendentes.
Tal contradição sugere um dilema político: como conciliar uma visão inclusiva e contemporânea da cidadania com a valorização das tradições familiares que moldaram a história da Itália?
Até aqui, o programa “Turismo de Raízes” tem se mostrado eficaz em atrair o interesse de descendentes italianos, mas também tem sido notado por seu potencial de se transformar em uma ferramenta de captação de clientes para um seleto grupo de parceiros comerciais.
A crítica principal é que a Itália, um país rico em história e cultura, não deveria depender apenas de estratégias comerciais para manter a ligação com suas origens, mas sim respeitar seus filhos no exterior e criar ferramentas eficazes de inclusão.
O desafio para o governo, e para figuras como Tajani, é encontrar uma maneira de integrar essas duas perspectivas de forma coesa, sem cair em contradições que possam minar a credibilidade das iniciativas promovidas.